'O segredo foi amor e rua'

Filha viveu na prática a inversão de papeis: ela cuidou da mãe com Alzheimer até os 97 anos

Gabriela Perufo

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Carmen Maria Andrade, que há anos é pesquisadora na área do envelhecimento, também viveu na prática essa inversão de papeis. Quando sua mãe, Olga Tomkowski, completou 88 anos, aceitou o convite para deixar Porto Alegre e vir morar com a filha, em Santa Maria.

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A convivência ficou mais intensa quando, tempos depois, a idosa recebeu o diagnóstico de Mal de Alzheimer: nem as falhas na memória, que aumentaram gradativamente, nem o uso de cadeira de rodas impediram que ela participasse da vida da filha. Olga acompanhava Carmen em viagens por todos os cantos do país. Evidentemente, a filha precisou se adaptar às mudanças:

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— Continuei com a minha pesquisa, com meu trabalho, para mostrar que era possível viver assim. Trouxe os alunos para dentro de casa. Mas o segredo com a minha mãe foi amor e rua: ela adorava sair, e nós saíamos muito. Há pessoas que tentam esconder os seus doentes. Nós éramos diferentes. A mãe vivia passeando no shopping, por exemplo.

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Com o passar do tempo, a autonomia de Olga diminuiu, mas a filha sempre preservou as decisões que ela podia tomar: que roupas usar, a que lugares ir. A praia era um destino obrigatório.

— Quando ela fez 90 anos, conheceu um notebook e quis ter um só para ela — lembra Carmen.

Para aumentar a sensação de segurança da idosa, que, com o avançar da doença, poderia estranhar as pessoas ao seu redor, Carmen teve uma ideia original: bolou uma camiseta que tinha estampada a frase "Equipe Olga". A veste era usada por médicos, funcionários da casa e pela própria filha.

— Ficava pensando como seria quando ela apagasse eu e o meu irmão da memória. Chegou a um ponto que ela já não sabia que eu era filha dela, mas ela sabia que eu era uma pessoa diferente.

No próximo domingo, dia 17, completa-se um ano da morte de Olga. Ela viveu até os 97 anos e, se tem algo que teve de sobra em sua vida, foi o amor da filha.

— O maior desafio é aceitar a situação. Os filhos precisam ter muita coragem, desprendimento e amor. Precisam ter consciência de que a saudade vai se instalar, muita saudade daquela mãe que a gente teve ao longo da vida — conta Carmen.

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